sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Trabalhar uma criança diferente


Crianças difíceis que frequentam escolas normais mas que apresentam dificuldades de aprendizagem que vão marcando o percurso escolar. Estes “alunos difíceis” são crianças e adolescentes que apresentam queixas de dificuldades de aprendizagem cuja origem não se enquadra em quadros neurológicos e não estruturam uma psicose ou neurose grave. Não são objecto de diagnósticos fechados, nem tampouco podem ser considerados como portadores de deficiência mental. Apresentam oscilações na conduta (com comportamentos de características hiperactivas, violentas, conflituosas ou simplesmente estranhas, têm dificuldade nos processos simbólicos que dificultam a organização do pensamento, e por sua vez esta mesma contingência cria obstáculos nas aprendizagens dos processos lógico-atemáticos. No entanto demonstram potencial cognitivo, revelando condições de serem resgatados na sua capacidade de aprendizagem. Esta contingência constitui uma falha dos mecanismos básicos da constituição do psiquismo, pelo que estas crianças solicitam a presença continua de quem os educa para que se consigam perceber ao longo do tempo e do espaço. São alunos que não apresentam autonomia para fazer frente às exigências escolares pois os estímulos exteriores penetram e não encontram sistemas de escoamento organizado para a energia que transportam. Como então incluir os alunos com dificuldades de aprendizagem devido a estas “falhas”? Como entender o que estas crianças nos tentam comunicar com as suas constantes recusas diante dos conteúdos pedagógicos, com impossibilidade de dividirem a atenção do professor com os colegas, a sua falta de limites, a agitação perante as propostas escolares e outras atitudes despropositadas ? É então necessário que alguém na “equipa escolar” estabeleça um vínculo com os alunos. Um vínculo que abranja a família e todos os representantes do grupo social em que se insere. É urgente que esta espécie de “tutor” ajude o aluno que não desenvolveu autonomia suficiente para efectivar o seu processo de aprendizagem. Estas crianças e jovens com lacunas intrapsíquicas não conseguem buscar sozinhos identificações que os levem a estruturar projectos de vida. É aí que a Educação pela Arte pode e deve operar as suas transformações. Por isso devem com urgência ser estruturados projectos facilitadores da inclusão, que operem modificações nos campos da memorização, capacidade de atenção, auto-controle e principalmente nas Motivações. Assim, precisamos ir trabalhando estes comportamentos em “doses moderadas”, globalizando as expressões duma forma organizada para que assim a reestruturação do eu de cada criança ou jovem se vá organizando. Este trabalho deve começar o mais cedo possível e torna-se necessário que comece pelo sentir-se a existência do seu corpo e do corpo do outro que funcionará como garantia da presença de si mesmo.

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